Neste ambiente esterilizado, qual hospital em véspera de epidemia,
Repousam as colunas verdejantes, cárceres que delimitam o infinito.
A urgência se impõe, o relógio, tirano, não concede tréguas.
É mister produzir, desviar-se é heresia.
A sala de conferências, tumba gelada,
Ecoa os clamores abafados, o espectro do desprezo,
Injúrias se entrelaçam com humilhações,
O tapeçar de preconceitos e intolerâncias é vasto.
Naquele instante, com mãos trêmulas, digitava,
O absurdo se instala como norma.
Imersos na ignorância, alimentamo-nos dela,
A história infiltra nossos diálogos vãos.
Desço, para saciar um apetite já moribundo, e me firo,
Retorno ao labor, a dor é mera espectadora.
Sangue goteja, trivial, sua única ofensa é manchar o piso.
Não se deixe seduzir pela luz desperdiçada.
Cada dia é um abismo,
Lemas se tornam mantras, imagens e ícones,
São estandartes de batalhas esquecidas em nossos corações.
Marchamos rumo à autoaniquilação mental,
Rindo das tragédias, do teatro do absurdo.
Há um prazer oculto na adrenalina do caos,
O sofrimento, agora patrimônio comum.
As janelas, santuários de luz, dançam as cortinas ao sopro do vento.
Na sala de reuniões, lágrimas e desolação compartilhadas.
Questiona-se: deve o labor ser tal tormento?
Adormecer sobre o frio azulejo do banheiro.
Éramos rebeldes, destemidos, sagazes,
Nas bases da filosofia, densa névoa sem razão,
Cada fronteira se desmancha, verdadeiros são os laços,
Quando temos por perto amigos de verdade.