Celebração do Inusitado

Contemplei o horizonte e avancei, sem orientação.
Disseram: "Espero que encontre sua missão".
Mas meu desejo é o vazio; sou chama que arde.
Sou apenas consequência do determinismo que me guarde.

Neste cosmos infinito, não persigo meu ser.
Evito os enigmas, deixo-os para esquecer.
O caos dança ao redor, sem sentido, sem medida.
Em cada passo incerto, uma nova avenida.

Desprovido de anseios danço sob o céu que nada traz.
Busco o inusitado, o singular, um sopro de paz.
A absurdidade do mundo me arranca um riso feroz.
Diante de quem questiona meu caminho, minha voz.

Sofrimento e injustiça clamam por razões.
Mas minha existência é um passeio, sem aflições.
Venho para celebrar, dançar, sem direções.
Na leveza do momento, encontro minhas canções.

Guiado pelo instinto, cada dia é um presente.
O desconhecido é um tesouro, reluzente e envolvente.
Nunca sei onde estou, nem busco descobrir.
Rejeito a caça aos significados, só quero sentir.

Desafiar as leis da física é um desejo em vão.
Cada célula e telômero já sabem seu fim, sua condição.
As escolhas são ecos de tempos já passados.
Impossíveis de mudar, por destino já traçados.

Dizem que um propósito a dor ameniza.
E que o livre arbítrio injustiças suaviza.
Mas não creio em contos que a alma tranquiliza.
A outros confortam, mas em mim não trazem brisa.

Abraço o caos, celebro cada incoerência.
Minha paz reside na ausência de previsão.
No desinteresse por qualquer definição.
É nesse vazio que encontro minha essência, minha redenção.

Elevo a dúvida, celebro o improviso.
Cada dia é uma chance de um novo paraíso.
Minha felicidade é tão vasta que transborda em ridículo.
Um delírio tão pleno que me torna, assim, tão lírico.

Salvador - BA - 2024