O Que Dark Souls Me Ensinou Sobre Ansiedade, Autocontrole e Boas Decisões

 Estou jogando Dark Souls e chego em um boss. Algo me diz que o padrão será o de sempre: aprender os movimentos do inimigo, lutar, morrer, tentar novamente, errar várias vezes até conseguir vencer. Nem me passa pela cabeça derrotá-lo de primeira. Acontece, mas é raro. Então, quando vejo o boss pela primeira vez, estou calmo, sem nada a perder, apenas querendo entender seus ataques, o ambiente e pensar em uma estratégia para o futuro. Essa tranquilidade me faz desempenhar extremamente bem: desvio dos golpes, ataco na hora certa… até que, por pouco, venço de primeira.

Na segunda tentativa, a história muda. Agora eu já sei o que fazer, tenho um plano perfeito que funciona. Mas, de alguma forma, minha mente não obedece. Começo a cometer erros idiotas, agir impulsivamente e fugir do que eu mesmo planejei. Não porque quero, mas porque não consigo evitar.

É senso comum que tomar decisões de cabeça quente é ruim. Agir por impulso prejudica a precisão, aumenta a chance de erro. Todo mundo sabe disso. Mas Dark Souls mostra essa verdade de maneira visceral, na pele. Em poucos minutos, você sente a diferença entre jogar com calma e jogar ansioso. Quanto mais nervoso você está, mais difícil o jogo se torna. Sua versão tranquila e racional parece muito superior à versão ansiosa e desesperada que você se tornou.

E tem algo curioso: quando estou ansioso, qualquer movimento do inimigo parece mais ameaçador. A reação instintiva é fugir, mas isso me afasta justamente do ponto vulnerável. Quando o inimigo abre a defesa, já estou longe demais para aproveitar a oportunidade. E quando finalmente vejo uma chance, o desespero me faz querer tirar o máximo proveito – como comer um doce para aliviar o estresse em vez de manter uma alimentação equilibrada para ter mais saúde no longo prazo. Se eu apenas esperasse o momento certo, atacasse uma vez e recuasse, demoraria mais para vencer, mas garantiria a vitória. Em vez disso, ansioso, tento atacar duas vezes. E é na segunda tentativa que sou punido. Simplesmente agi por impulso, mesmo sabendo o tempo todo que essa era a pior escolha possível.

No fim das contas, basta soltar o controle, beber um pouco de água, respirar fundo e recomeçar com paciência, mantendo a calma e a frieza em um ambiente absolutamente sombrio, hostil, insalubre, onde tudo e todos querem te matar. E, de repente, meu desempenho melhora drasticamente. Minha capacidade de autocontrole, de tomar decisões e de agir no momento certo fica significativamente melhor. Dark Souls mostra isso ao vivo, de forma clara e brutal. Foi isso que aprendi com o jogo.

Finalmente, a praia!

Transcrição do áudio que gravei quando cheguei à praia de São Luis.

Finalmente, a praia! Nossa Senhora, lua cheia! Só consigo ouvir o mar, só consigo ouvir o som das ondas, da brisa, o vento batendo de ladinho no meu corpo. Nossa Senhora, que sensação boa! Meu Deus do céu, como eu senti falta da praia, como eu senti falta da praia.

Fiquei uma semana em Teresina. Teresina foi a primeira cidade deste ano, na minha viagem, que não tinha praia, porque fica no interior do Piauí. Teresina não está no litoral, né? E, assim, foi só uma semana, mas, nossa, é sério... Todos os finais de semana deste ano eu fui à praia. Quase todos. Desde que saí de viagem, fui à praia todas as semanas, sem falta.

E é uma paz que não existe em nenhum outro lugar. Uma paz que você sente olhando a imensidão de tudo, o mar infinito. Até o fim, aquela água que fica na areia reflete todas as luzes da cidade. É bonito demais, viu? Acho que é essa paz que não se encontra em nada mais, em nenhum outro lugar.

É algo essencial pra começar bem a semana, pra começar com o pé direito. Meu Deus do céu, estou muito em paz, sabe? Paz pura. Aquela sensação de estar no presente máximo. Não existe nada no futuro, nada no passado. Só existe esse momento, aqui, vendo as ondas que vêm e voltam, vêm e voltam... E eu fico olhando, olhando... Dá pra ficar hipnotizado aqui por horas e horas.

Nossa, dá pra se perder demais! É uma maravilha, viu? Dá vontade de viver eternamente com essa sensação. E ainda dá pra enxergar tudo porque é a luz da lua. A luz da lua reflete na água... Nossa Senhora! Eu estou muito, muito grato por tudo. Muito obrigado pela vida. Muito obrigado por essa sensação que estou sentindo agora.

Eu amo a praia. Amo muito, profundamente.

São Luís - MA

O Peso do Vazio

Há murmúrios que sopram no silêncio,
um peso leve que ninguém vê.
Entre passos e cores, um eco distante,
um som que não cessa, mas nunca se entende.

O dia dança em telas de ouro,
e mesmo assim, há tons que faltam.
O brilho cega, o riso escapa,
como areia fugindo entre os dedos.

Encontros breves com o tudo e o nada,
em rotas sinuosas que traço no vento.
Invento risos, desenho histórias,
mas sempre há rachaduras no cimento.

Há um custo naquilo que não se nomeia,
um esforço em seguir o que não se alcança.
Na estrada há flores e pedras ocultas,
que perfumam e ferem em igual balança.

Se o horizonte é um véu que nunca se abre,
a jornada, talvez, seja a resposta.
Não é no destino que a alma repousa,
mas no mistério que o infinito gosta.

O dia que eu salvei uma vida

Eu estava preparando o meu lanche no final do dia: um pão francês com presunto e muçarela com manteiga. Fui levar a faca até a pia, quando vi, no ralo, um pequeno inseto tentando sair. Ele subia na borda do ralo e caía repetidamente, sem sucesso. Quando caía de pernas para cima, movia-as rapidamente, como se estivesse desesperado.

Meu olhar se focou naquela pequena situação. Eu poderia continuar a minha rotina e fazer o meu lanche, mas ignorar aquilo? Parecia um ser desesperado. Peguei uma colher e a ofereci para que ele subisse. Coloquei o inseto em cima da pia, e ele saiu correndo, livre, movendo as antenas como se tentasse entender aquele novo ambiente.

Não consigo imaginar o que ele pensou. Depois, ele foi embora. Esse deveria ser um dos dias mais alegres da minha vida: eu salvei uma vida. Poderia até sair nos jornais. Fiz uma boa ação, mas será que realmente teria valor? Quem veria isso com valor? Salvar um pequeno inseto na pia?

Por que isso não tem valor? Um inseto não é uma forma de vida, como um ser humano, só de outra espécie? Mas quando eu salvo um cachorro da vida ou da morte, um gato, ou até um tucano, isso tem valor, não? São de outras espécies, e mesmo assim é valorizado.

Então, seria pela escala da situação? Um pequeno inseto, mal dá para ver. Quantos morrem e você nem percebe? O tamanho importa tanto assim? Então a vida de um elefante valeria mais que a de um ser humano? E a vida de um cachorro, valeria menos?

A vida de um adulto vale mais que a de uma criança por ser maior? Não sei. Enfim, salvei uma vida. Talvez isso fosse uma grande coisa na minha vida.

São Luís - MA

A Revolta do Previsto

O caminho sempre me pareceu óbvio. Todas as etapas da vida estavam alinhadas como dominós prontos para cair: fundamental, médio, técnico, universidade e pós-graduação. Segui o script: consegui um emprego, depois um aumento, e outro emprego que pagava mais. Carreira resolvida, vida amorosa nos trilhos? Tentei amar, fracassei e tentei de novo. E então, quais seriam os próximos passos? Casamento, filhos, netos, aposentadoria.

Mas, mesmo com uma casa, bens, uma família construída, algo estava faltando. Embora tudo fosse bom, eu usava um chapéu que bloqueava minha visão do céu. Será que celebrar o sucesso era tudo que restava? Estranhamente, parecia que a vida já tinha um roteiro escrito, e eu apenas precisava vivê-la. Mas valeria a pena, se tudo já estava pré-determinado e repetido bilhões de vezes?

Não sei se era genialidade demais entender todos os fios que conectavam as coisas, ou pessimismo demais para não ver a beleza nisso. Era uma situação amarrada e terrível; antes de eu nascer, tudo já estava definido.

Tudo parecia certo, quase bom, mas algo obscurecia meus olhos; minha visão não estava totalmente clara. Era como se faltasse um par de óculos. E mesmo ao usá-los, o mundo ao redor permanecia embaçado, nunca completamente nítido.

Eu daria à minha vida uma nota 7/10: acima da média, mas nada surpreendente. Será que algo inesperado iria me arrancar dessa rotina e me tornar um herói? Será que minha vida seria insignificante comparada às biografias que li?

Será que os sonhos da minha infância eram compartilhados por todas as crianças? Claro, essas fantasias raramente se concretizam. Todo esse excesso acaba descartado, considerado um desperdício inútil. Parece que as forças do caos se organizam e transformam-se em ordem, assegurando que tudo funcione conforme o planejado.

Se era para viver o mito de Sísifo, seria mais fácil desistir do alto de um oitavo andar? Sacudi minha alma com força. Era essa a maldita vida? Não era possível que eu tivesse nascido apenas para isso. 

Num impulso, soquei o vidro com a mão. Foi um gesto irracional. Olhando para a palma da minha mão, senti apenas uma ardência intensa. Que tipo de dor era essa que eu mesmo havia provocado, e por que parecia tão estranhamente satisfatória? Olhei pela janela e, apesar da dor, sorri. Aquela janela que nunca me deu a cor real das coisas. Então, pulei e saí correndo sem rumo, sem sentido, sem planos. Corri como quem busca chegar em primeiro lugar, mas sem um destino definido.

Talvez eu devesse ter feito isso desde sempre, vivendo algo completamente diferente de tudo o que se esperava.

Salvador - BA - 2024

Entre Girassóis e Dores

Nunca nos atemos ao que foi,
sem um olhar acusador,
nem consideramos o tempo jogado ao vento,
pois cada momento teve seu valor.

Em cada instante,
fomos o que o tempo nos permitiu ser.
Cada deslize,
uma lição aprendida,
na vida cotidiana,
entre risos na mesa do trabalho,
no pontinho de ônibus.

Nosso vínculo era feito Girassol e Dama da Dor,
uma disparidade ardente tal qual fissão nuclear.

Construímos mais que lares simples,
nos banhos compartilhados,
em cada momento.
Mesmo ao nos despedirmos,
nosso enredo continua imerso.

Saudades não, só celebrações.

Salvador - BA - 2024

Normal

Em homenagem ao meu caro amigo Leo.

Aqui descrevo um dia normal de uma pessoa totalmente normal.

Começou com uma leve ondulação na visão, uma dança sutil de luz e sombra. A tontura veio como um sussurro, trazendo consigo pontos pretos que flutuavam como estrelas efêmeras. Na periferia do olhar, pontos coloridos piscavam, e a sensação de um corpo dentro de outro tomou conta. Tudo parecia mais leve, como se eu vestisse uma roupa de astronauta, flutuando no vácuo.

As ondas de cor e luz tornaram-se mais intensas, bolhas de sabão refletindo o arco-íris ao meu redor. Cada movimento gerava vibrações, e uma pessoa em movimento desenhava ondas coloridas no ar, engraçadas e encantadoras. Pensamentos incompletos desvaneciam em risos, palavras se transformavam em piadas sem sentido. O mundo flutuava e se distorcia, paredes encolhiam e cresciam.

Meu corpo parecia distante, como se minha alma estivesse voando. Sentia o ambiente de uma maneira nova, diferente, como se tocasse dimensões invisíveis. Os sons vinham de lugares inesperados, confusos, como ecos de um sonho. Tudo o que eu pensava se materializava na minha frente, borrado e distorcido, a imaginação se tornando realidade.

Meu amigo andava pelo corredor, e quanto mais longe ele ia, menor se tornava, até caber na palma da minha mão, desaparecendo em um quadro na parede, como se entrasse em uma tela mágica. Olhei para o chão e vi através das paredes, até o estacionamento, os carros como brinquedos e as vigas de ferro como linhas delicadas.

A revelação veio como um raio de luz, clareando a mente: a humanidade sabia tão pouco sobre o universo. A ciência, uma vela solitária na vastidão da ignorância. E eu, agora, via além, abria minha mente para a infinidade do desconhecido. Tudo ao redor era deslumbrante e encantador.

Assistir filmes era mergulhar nas emoções dos personagens, sentir o que eles sentiam. Eu estava lá, atrás das câmeras, no momento exato da gravação. Ao assistir "The Godfather", senti-me no estúdio, vendo a mágica acontecer em tempo real, como se a história se desenrolasse diante dos meus olhos, viva e pulsante.

Covil - Poços de Caldas - MG - 2018

Uma noite como qualquer outra

Como pode, em uma noite como esta.
Uma noite comum, como qualquer outra.
Solicitar ao mercador Zé Delivery.
E à minha portinhola aportar uma cerveja.
Que não é meramente uma cerveja.

Forjada na rapadura.
Da cor de mel, com brilho dourado.
Seu aroma doce e convidativo.
Cada gole, uma sinfonia de sabores.
Que me deixa enlevado e inebriado.
Com notas sutis de caramelo e nuances de cana.
Como se eu vivesse qual soberano.
Neste reino de delícias líquidas.

O corpo robusto, a textura suave.
Despertando os sentidos em estado sublime.
Que encantamento é este, de um simples pedido.
Que transforma uma noite comum em epopeia.
Onde o líquido âmbar desliza suavemente.
E minha alma, como régio ser, se eleva.

Zero se tornou Um

"Acorde, Zero!"

Da janela do meu apartamento, consigo ver mil outras janelas de outros prédios, exatamente como a minha. Mas não consigo ver daqui o sol.

O trânsito hoje está parado, logo pela manhã. Algum operário deve ter perecido na contramão; seu corpo agora é um obstáculo inútil, atrapalhando o tráfego.

O retrato na escrivaninha é uma relíquia de um passado esquecido: meus pais e eu, uma criança sorridente. A saudade rasga meu peito, um lembrete cruel da família e dos amigos de infância que se desvaneceram.

Meu celular vibra: "Iniciando... nenhuma mensagem de trezentos e cinquenta e dois amigos."

O armário, caindo aos pedaços, guarda memórias sufocadas pela poeira. Os livros são monumentos de uma era esquecida: Orwell, Lewis Carroll e Nietzsche. Testemunhas silenciosas de um espírito que já não vive.

Levanto-me, exaurido. Cada movimento é um fardo.
No banheiro, cumpro a rotina mínima.
Vivo a muito tempo nessa rotina monotona.

De certa forma eu acabei me acostumando

No metrô, sou apenas mais um fantasma a caminho do purgatório.
O olhar do meu chefe é uma lâmina afiada: "Você chegou atrasado hoje, Zero. Na próxima, é rua!"

Meu colega sussurra: "Acho que mês que vem consigo sair desse buraco."

Meu cubículo azul, sinto que passo a maior parte do meu dia aqui. O tempo se arrasta. "Espero que você vire a noite para cobrir esses atrasos."

Acordo no pesadelo de sempre, transformado em um inseto gigante. O quarto é uma prisão, meu corpo uma carcaça inútil. Aos olhos dos outros, sou um monstro, um ser desprezível. Morro, finalmente, de solidão e desespero.

As pessoas me chamam de louco, mas sei que somos apenas marionetes de um conto cruel. Mais um dia no trabalho: "Atrasado novamente? Você já foi melhor."

Mensagem automática: "Parabéns, Zero. Você completou uma década na companhia." Penso comigo: "Dez anos? Eu era jovem, a vida prometia tanto." Correndo atrás de um sol inatingível, cada dia mais cansado, preso em um ciclo eterno de destruição e vazio, num labirinto sem saída.

Estou fora. Nunca mais voltarei.

Eu preciso escapar da realidade, cair diretamente na toca do coelho. Sinto uma necessidade desesperada de me expressar, de me conectar. As artes são a última esperança de redenção. Na fusão de todas elas, encontro a arte final dos contos.

Vou escrever um conto, um grito de desespero para este blog. Contarei minha história, minha miséria. Será chamado "Zero se tornou Um".

Finalmente, Zero se tornou Um.

Celebração do Inusitado

Contemplei o horizonte e avancei, sem orientação.
Disseram: "Espero que encontre sua missão".
Mas meu desejo é o vazio; sou chama que arde.
Sou apenas consequência do determinismo que me guarde.

Neste cosmos infinito, não persigo meu ser.
Evito os enigmas, deixo-os para esquecer.
O caos dança ao redor, sem sentido, sem medida.
Em cada passo incerto, uma nova avenida.

Desprovido de anseios danço sob o céu que nada traz.
Busco o inusitado, o singular, um sopro de paz.
A absurdidade do mundo me arranca um riso feroz.
Diante de quem questiona meu caminho, minha voz.

Sofrimento e injustiça clamam por razões.
Mas minha existência é um passeio, sem aflições.
Venho para celebrar, dançar, sem direções.
Na leveza do momento, encontro minhas canções.

Guiado pelo instinto, cada dia é um presente.
O desconhecido é um tesouro, reluzente e envolvente.
Nunca sei onde estou, nem busco descobrir.
Rejeito a caça aos significados, só quero sentir.

Desafiar as leis da física é um desejo em vão.
Cada célula e telômero já sabem seu fim, sua condição.
As escolhas são ecos de tempos já passados.
Impossíveis de mudar, por destino já traçados.

Dizem que um propósito a dor ameniza.
E que o livre arbítrio injustiças suaviza.
Mas não creio em contos que a alma tranquiliza.
A outros confortam, mas em mim não trazem brisa.

Abraço o caos, celebro cada incoerência.
Minha paz reside na ausência de previsão.
No desinteresse por qualquer definição.
É nesse vazio que encontro minha essência, minha redenção.

Elevo a dúvida, celebro o improviso.
Cada dia é uma chance de um novo paraíso.
Minha felicidade é tão vasta que transborda em ridículo.
Um delírio tão pleno que me torna, assim, tão lírico.

Salvador - BA - 2024

Sangue, Obstáculos e Ícones: Tratados Intelectuais do Cotidiano

Neste ambiente esterilizado, qual hospital em véspera de epidemia,
Repousam as colunas verdejantes, cárceres que delimitam o infinito.
A urgência se impõe, o relógio, tirano, não concede tréguas.

É mister produzir, desviar-se é heresia.
A sala de conferências, tumba gelada,
Ecoa os clamores abafados, o espectro do desprezo,
Injúrias se entrelaçam com humilhações,
O tapeçar de preconceitos e intolerâncias é vasto.

Naquele instante, com mãos trêmulas, digitava,
O absurdo se instala como norma.
Imersos na ignorância, alimentamo-nos dela,
A história infiltra nossos diálogos vãos.

Desço, para saciar um apetite já moribundo, e me firo,
Retorno ao labor, a dor é mera espectadora.
Sangue goteja, trivial, sua única ofensa é manchar o piso.

Não se deixe seduzir pela luz desperdiçada.
Cada dia é um abismo,
Lemas se tornam mantras, imagens e ícones,
São estandartes de batalhas esquecidas em nossos corações.

Marchamos rumo à autoaniquilação mental,
Rindo das tragédias, do teatro do absurdo.
Há um prazer oculto na adrenalina do caos,
O sofrimento, agora patrimônio comum.

As janelas, santuários de luz, dançam as cortinas ao sopro do vento.
Na sala de reuniões, lágrimas e desolação compartilhadas.
Questiona-se: deve o labor ser tal tormento?
Adormecer sobre o frio azulejo do banheiro.

Éramos rebeldes, destemidos, sagazes,
Nas bases da filosofia, densa névoa sem razão,
Cada fronteira se desmancha, verdadeiros são os laços,
Quando temos por perto amigos de verdade.